Insônia e outros distúrbios do sono
Autora: Â Dra. Gabriela Graciano Dias, Médica Psiquiatra
O estresse da vida moderna tem feito com que as pessoas durmam cada vez menos e os distúrbios do sono têm se tornado uma queixa frequente nos consultórios psiquiátricos.
Eles são classificados, de acordo com a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (CIDS-2), em:
I. Insônias
II. Distúrbios Respiratórios relacionados ao Sono
Ex: Apneia Obstrutiva do Sono
III. Hiperssonias de Origem Central
Ex: Narcolepsia
IV. Distúrbios do Ritmo Circadiano do Sono
Ex: Jet Lag, Trabalho de Turno
V. Parassonias
Ex: Sonambulismo, Terror Noturno
VI. Distúrbios do Movimento relacionados ao sono
Ex: Síndrome das Pernas Inquietas, Bruxismo relacionado ao sono
VII. Sintomas Isolados, variantes aparentemente normais e de importância não resolvida
Ex: Ronco
VIII. Outros Distúrbios do Sono
Insônia
A insônia pode ser definida como um transtorno caracterizado por dificuldade de iniciar ou manter o sono, despertar precoce ou sono de má qualidade e cronicamente não reparador, resultando em sintomas diurnos, físicos e emocionais, com impacto negativo no funcionamento social e cognitivo do indivíduo.
Os sintomas ocorrem mesmo em vigência de condições adequadas para o sono e os pacientes apresentam pelo menos um dos seguintes sintomas diurnos: fadiga, déficit de atenção, concentração e memória; disfunção sexual, profissional e acadêmica; irritabilidade, sonolência excessiva diurna; falta de motivação e energia; propensão a erros; acidentes no trabalho ou na condução de veículos; cefaleias, tensão e sintomas gastrointestinais; preocupação com o sono.
A privação ou redução do tempo de sono trazem diversos prejuízos ao organismo: alterações do humor, irritabilidade e impaciência, comprometimento da memória e concentração, aumento da liberação de hormônios relacionados ao estresse (Cortisol) contribuindo para o desenvolvimento de hipertensão arterial e outras doenças cardiovasculares, gastrintestinais e pulmonares, além de ansiedade e envelhecimento precoce.
Por isso, é fundamental que os pacientes insones sejam diagnosticados e adequadamente tratados!
Na avaliação da insônia são importantes:
• a identificação de quando e como os sintomas iniciaram e se houve algum fator associado ao início da mesma
• a determinação do curso dos sintomas e os tratamentos já realizados
• a investigação dos hábitos diurnos e noturnos do indivíduo, das condições do quarto e da suspeita de doenças sistêmicas associadas
• o emprego do diário do sono e, em alguns casos, a realização da polissonografia.
 Tratamento
O tratamento da insônia pode ser medicamentoso e/ou comportamental. Os resultados mais satisfatórios ocorrem com a combinação dessas duas modalidades terapêuticas.
Em geral, os medicamentos mais utilizados são os hipnóticos, antidepressivos sedativos, antipsicóticos em baixa dosagem e os benzodiazepínicos (cujo uso crônico não é recomendado, em longo prazo, para essa finalidade).
O tratamento não farmacológico engloba a terapia cognitivo comportamental (TCC), técnicas de relaxamento e medidas de higiene do sono.
 Insônia e Transtornos mentais
A insônia é uma comorbidade em cerca de 90 a 93% dos casos de transtornos mentais graves. Ela tem grande impacto nos resultados do tratamento dessas condições e representa risco de recaída e recorrência.
Em muitos casos, a intensidade dos sintomas do distúrbio do sono é maior que a dos sintomas do transtorno mental subjacente e isso pode fazer com que o paciente procure o médico devido aos problemas de sono e não por causa dos sintomas de depressão ou ansiedade, por exemplo.
Cerca de 25 a 45% dos pacientes com algum transtorno de ansiedade apresentam queixas de insônia grave.
Existe também uma alta associação entre depressão e insônia. Esta é uma queixa residual persistente nos indivíduos deprimidos e um sintoma preditor de recorrência da depressão.
A associação clínica entre insônia e fibromialgia também é frequente. O prejuízo na qualidade do sono relaciona-se de forma recíproca com a dor, podendo ser causa, consequência ou fator perpetuador da condição dolorosa.
Orientações sobre Higiene do Sono
1. Estabeleça horários regulares de sono: tente dormir e acordar todos os dias no mesmo horário, inclusive nos feriados e finais de semana;
2. Não vá para a cama sem sono para tentar dormir. Vá para a cama apenas quando estiver com sono, independente do horário em que isso ocorra;
3. Não passe o dia preocupando-se com a hora de dormir;
4. Não fique controlando o passar das horas no relógio;
5. Evite o uso de estimulantes, principalmente nos períodos vespertino e noturno (café, coca-cola, chá mate, chá preto, chá verde, chocolate, cigarro, energéticos);
6. Evite o consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas;
7. Não cochile durante o dia;
8. Procure fazer refeições leves e no máximo até duas horas antes de dormir. Evite a ingestão de grandes volumes de líquidos antes de ir para a cama;
9. Realize atividades físicas regulares e preferencialmente durante o dia (evite praticá-las próximo da hora de dormir);
10. Evite atividades estimulantes à noite, como o uso de computadores, televisão, leitura, etc. (Apenas para poucos insones a TV e a leitura podem estimular o sono);
11. Evite qualquer comportamento diferente de dormir ou fazer sexo no quarto/cama (não se alimentar, ler, estudar, trabalhar, assistir tv ou usar o computador na cama/quarto);
12. Certifique-se do conforto de seu quarto e da qualidade de seu colchão e travesseiro. Mantenha seu quarto limpo, organizado, arejado, silencioso e com pouca luz;
13. Avalie periodicamente sua saúde (roncopatia, apneia do sono, refluxo gastroesofágico, dores em geral, depressão e ansiedade podem prejudicar o sono);
14. Mantenha uma agenda de preocupações, onde possa anotar diariamente, antes de sentir sono, suas preocupações e pendências;
15. Algumas pessoas naturalmente dormem menos que outras! Isto não significa ter insônia.
16. Não crie expectativas irreais e imediatistas em relação ao tratamento. Não existem medicações milagrosas e o sucesso do tratamento depende, sobretudo, de você!
Para maiores informações, consulte um psiquiatra.
 Referências:
Associação Brasileira do Sono – www.absono.com.br
III Consenso Brasileiro de Insônia – 2013
Diretrizes para o diagnóstico e tratamento da Insônia
Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (CIDS)
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